A Caravana necessária

Domingo passado, 29/04/2018, o jornal O Globo estampou na primeira página a notícia de que no Rio de Janeiro a fila de espera para consultas oftalmológicas atingia 681 dias, ou quase dois anos, um aumento de 58% em relação a 2017.

Após a consulta, há outra demorada fila para conseguir a realização de exames e mais outra ainda para realizar a cirurgia. O ciclo de espera do carioca pode ultrapassar vários anos, período em que pioram as condições de saúde.

Nessa mesma semana, tive a oportunidade de visitar a denominada Caravana da Transformação, instalada na Arena Pantanal. Tinha muita curiosidade de conhecer o programa, tão contraditórias e apaixonadas eram as opiniões que sobre ele lia ou ouvia, tanto pela imprensa como em conversas sociais.

Minha ida à Caravana foi discreta, solitária e quase anônima. Não fui acompanhado de autoridades, assessores, seguranças ou fotógrafos. Só não posso afirmar que foi a visita de um simples cidadão porque liguei na véspera solicitando que alguma pessoa da organização pudesse me guiar e esclarecer dúvidas.

De fato, fui gentilmente recebido por uma das coordenadoras, que se esmerou em responder com competência a todos os questionamentos apresentados. Na Arena Pantanal, pude conversar com médicos, enfermeiros, técnicos, pacientes, familiares e voluntários. Percorri todas as instalações: recepção, ambientes de espera, consultórios, almoxarifado e praça de alimentação. Com os devidos cuidados, fui admitido no centro cirúrgico onde presenciei duas cirurgias de catarata com equipamentos de alta precisão. Acompanhei exames pós-operatórios e a entrega gratuita de medicamentos e óculos de proteção. Tudo em um ambiente de muita calma e bem organizado, apesar da presença de mais de duas mil pessoas.

Em inúmeros pequenos detalhes, como na distribuição de água ou na disposição das cadeiras, constatei a preocupação com o conforto e a segurança do público, em sua imensa maioria pessoas idosas e de baixa renda. O índice de complicações pósoperatórias é mínimo, pois todos os protocolos médicos seguem os padrões fixados pelos órgãos reguladores.

Em nenhum momento, observei atitudes, falas, materiais ou símbolos que pudessem significar ou induzir a promoção pessoal de alguma autoridade. Fui apresentado a um conjunto de dados estatísticos e epidemiológicos acerca da incidência de doenças oftalmológicas em Mato Grosso e das limitações do atendimento disponibilizado pelos Programas de Saúde da Família e pelos planos de saúde privados, resultando em parcela significativa da população com necessidade de uma alternativa como a oferecida pela Caravana. Aliás, os números do Rio de Janeiro divulgados pelo O Globo confirmam essa carência.

No que tange aos custos, por cada procedimento, exame ou cirurgia, o governo estadual paga o valor da tabela SUS, muito inferior ao que o paciente pagaria num atendimento particular, se pudesse. Ademais, a existência da Caravana permitiu que Mato Grosso fosse finalmente autorizado a receber repasses do Ministério da Saúde para procedimentos oftalmológicos de média e alta complexidade, no montante de R$ 1.416.179,00.

Antes do programa, tais recursos nunca chegaram. Apenas no dia em que compareci à Caravana foram realizadas 675 cirurgias oftalmológicas diversas, na maioria de catarata. No total, dezenas de milhares de pessoas já foram beneficiadas nas diversas regiões, com mais saúde e qualidade de vida. Não tenho qualquer intenção ou pretensão de convencer ninguém, mas modestamente sugiro, principalmente aos que detêm ou aspiram a funções na vida pública ou que são influenciadores da opinião pública que, antes de formularem o seu veredicto, procurem se informar e façam também uma visita a alguma das edições do programa.

Quanto a mim, como cidadão, saí da Arena Pantanal convencido da importância e da qualidade dos serviços de saúde ali oferecidos e bem impressionado com a dedicação demonstrada por servidores e voluntários. A Caravana é necessária, é útil, é bem executada e deve continuar.

LUIZ HENRIQUE LIMA É CONSELHEIRO SUBSTITUTO DO TCE-MT

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