Como jogos de apostas on-line afetam a saúde mental de adolescentes?
O cérebro em desenvolvimento desse público é especialmente vulnerável aos estímulos rápidos e recompensas viciantes.
Cores vibrantes, linguagem acessível, estética do universo infantojuvenil e promessa de ganhar dinheiro rápido são recursos usados para divulgar jogos de apostas on-line. Esses estímulos atraem adolescentes em uma fase de impulsividade e busca por recompensas imediatas, quando o cérebro ainda está em desenvolvimento. Apesar da proibição para menores de 18 anos, dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública mostram que jovens de 14 a 17 anos acessam sites ilegais. Por isso, o Hospital Pequeno Príncipe reforça a importância de os pais acompanharem de perto o que os filhos acessam, diante dos riscos psicológicos e sociais associados ao vício dessa prática.
Por que o cérebro do adolescente é mais vulnerável ao vício?
Durante a infância e adolescência, o cérebro ainda está em amadurecimento. O núcleo accumbens, ligado à sensação de prazer e à dopamina, funciona a todo vapor. Já o córtex pré-frontal, responsável por controlar impulsos e avaliar riscos, ainda não está completamente desenvolvido.
Essa combinação torna esse público mais vulnerável a estímulos rápidos e recompensas imediatas, expectativas irreais e sensações de prazer intensas limitadas ao mundo digital. “É como se o cérebro adolescente tivesse o acelerador pressionado, mas sem os freios totalmente prontos”, explica o neurologista pediátrico Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe.
Qual é a lógica por trás dos jogos de apostas on-line?
Os jogos de aposta utilizam mecanismos psicológicos para prender a atenção do usuário. São estratégias que reproduzem a lógica dos cassinos, mas adaptadas ao ambiente digital e muitas vezes direcionadas ao público jovem.
“Um exemplo é o reforço intermitente: o jogador quase ganha várias vezes, recebe pequenas recompensas e mantém a crença de que o grande prêmio está próximo”, exemplifica a psicóloga Marjorie Wanderley, do Hospital Pequeno Príncipe.
Quando associados a paixões como o futebol, esses jogos criam uma falsa sensação de controle, com a ideia de que é possível prever resultados. Para os adolescentes, essa ilusão é particularmente intensa, pois o cérebro em desenvolvimento é mais propenso a formar conexões emocionais profundas e comportamentos repetitivos.
Consequências dos jogos de apostas on-line no desenvolvimento infantojuvenil
A psicóloga explica que a exposição precoce aos jogos de azar pode afetar diretamente os adolescentes, aumentando o risco de transtornos relacionados ao controle de impulsos e ao comportamento compulsivo.
Além disso, esses jogos reforçam a busca por recompensas imediatas, prejudicando o desenvolvimento de funções cognitivas como atenção, tomada de decisão e autocontrole. Também podem gerar uma visão distorcida da relação com o dinheiro, causando dificuldades nos estudos e no trabalho e problemas financeiros futuros.
É comum o surgimento de ansiedade, depressão e dificuldades em manter relacionamentos saudáveis. “As pessoas com TDAH estão ainda mais vulneráveis, apresentando maior risco de dependência em apostas, jogos e até outras substâncias”, alerta Marjorie.
Dados da OBID (2025) evidenciam a dimensão do problema: 38,6% das pessoas que fazem apostas apresentam algum grau de risco ou já enfrentam transtornos relacionados ao vício. Entre adolescentes de 14 a 17 anos, esse percentual sobe para 55,2%, indicando risco significativo de problemas de saúde mental e comportamentos associados ao jogo.
Sinais de alerta para o vício
- Identificar esses sinais no início de suas manifestações pode evitar que a situação evolua para um quadro de dependência.
- Perda de interesse por atividades como brincar ao ar livre ou praticar esportes.
- Irritação quando o tempo de tela é interrompido.
- Pedidos insistentes para continuar conectado.
- Dificuldade em retomar o bom humor após sair do jogo.
- Mentiras sobre o tempo de uso de aplicativos.
O papel da família na construção de hábitos digitais saudáveis
O equilíbrio entre diálogo e presença faz a diferença. Nesse sentido, rotinas organizadas, regras claras e acompanhamento do que é acessado ajudam a reduzir os riscos. “É fundamental incentivar também atividades variadas, como esporte, leitura e brincadeiras ao ar livre”, orienta Marjorie.
Veja algumas recomendações práticas!Converse sobre o que são jogos de aposta e explique seus riscos.
Estabeleça limites de tempo de tela de acordo com a faixa etária.
- Incentive esportes, leitura, artes e brincadeiras coletivas.
- Monitore o conteúdo acessado e bloquear aplicativos ou sites inadequados.
- Demonstre interesse pelo que é acessado, mantendo sempre o diálogo aberto.
“Mas tudo isso só é possível se os pais demonstrarem interesse de uma forma não punitiva. Ou seja, sentando ao lado e dizendo algo como ‘me mostra o que você está vendo, o que está jogando, me explica como isso funciona’. É preciso manter todas as vias de comunicação abertas”, reforça a psicóloga.Confira, no vídeo a seguir, o alerta dos especialistas sobre os jogos de azar:
O Pequeno Príncipe é participante do Pacto Global desde 2019. E a iniciativa presente nesse conteúdo contribui para o alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Saúde e Bem-Estar (ODS 3).
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Da Assessoria de Comunicação.
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